FÉ E PRUDÊNCIA
“Pois
qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro
para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir?
Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar,
todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a
construir e não pôde acabar.” (Lucas 14:28-30)
Esta
é uma das parábolas de Jesus que nos dá a impressão de eliminar a fé.
Ou seja, nada devo fazer sem antes ter reservado todos os recursos e
planejado os mínimos detalhes. Mas será que é isto mesmo que Jesus está
ensinando?
Ele ainda continua com um segundo exemplo: “Ou
qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro
para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra
ele com vinte mil? Caso contrário, estando o outro ainda longe,
envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de paz” (Lc. 14:31-32).
Se
entendo que Jesus está dizendo que não comece a construir sem antes ter
todo dinheiro depositado no Banco, Jesus está errado, visto que a
grande maioria dos templos cristãos (senão todos) que foram construídos
na nossa cidade foram iniciados sem ter todo recurso em mãos e, apesar
disto, foram concluídos.
Do mesmo modo, Jesus está errado, porque Gideão foi combater um imenso exército inimigo, com apenas trezentos homens. “Os
midianitas, os amalequitas e todos os povos do Oriente cobriam o vale
como gafanhotos em multidão; e eram os seus camelos em multidão
inumerável como a areia que há na praia do mar” (Jz. 7:12). Como foi que ele, agindo imprudentemente com apenas trezentos homens, pôde derrotar este exército numerosíssimo? A
vitória foi da imprudência? Então, podemos concluir que quando se tem
fé e age-se imprudentemente dá certo? Devo, então, orar para que Deus me
conceda tanta fé que, mesmo agindo de forma inconsequente, o resultado
será positivo? Será que este é o ensinamento destas passagens?
A
história secular também traz exemplos assim. Quando Alexandre, o
Grande, foi combater Dario, o Persa, ele tinha oitenta mil homens,
Dario, cento e oitenta mil, mesmo assim, foi derrotado por Alexandre.
Graças à imprudência de Alexandre? Ou, diria, a imprudência de Dario?
Ou, talvez, a fé de Alexandre e a falta de fé de Dario?
Fé
e Prudência andam juntas. Se andam juntas, não posso ser tão prudente a
ponto de dispensar a fé; nem ser tão cheio de fé a ponto de agir
imprudentemente. Tão pouco posso desculpar-me, como o fez aquele que
recebeu um talento, dizendo ao Senhor: “...receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu” (Mt. 25:25). E recebe, merecidamente, a repreensão de seu Senhor que o chama de: “Servo mau e negligente”
(Mt. 25:26). Ao dar o talento, o Senhor acreditou nele, mas ele afronta
ao seu Senhor acusando-o de uma avaliação errada. Enterrar o talento,
não foi um ato de prudência dele, mas de maldade e de negligência, pois
poderia ter abençoado vidas investindo, mas preferiu devolver um talento
desvalorizado.
Na
parábola da edificação da torre, descrita acima, Jesus diz que o
construtor vai verificar se tem meios para a construir, mas não diz que
ele desiste de construir. Ele é prudente, para que não se zombe dele,
ele vai, então, buscar os meios de como construir sem deixá-la
incompleta. A prudência o leva a agir, a buscar recursos, pois ele
precisa construir aquela torre. Isto é importante para ele!
Na
parábola entre exércitos, o rei do exército menor vai avaliar se pode,
combater o outro que vem contra ele com um exército maior. Se puder, ele
vai guerrear; se não puder, ele vai fazer um acordo de paz. Mas ele não
vai simplesmente desistir, nem ir à luta sabendo que a possibilidade de
ser derrotado é muito maior do que a de vencer. Não há empate numa
guerra. E se ele achar que pode ganhar, mesmo com um número reduzido,
como o fez Alexandre, o Grande, ele parte para a ofensiva.
Jesus ensina: AVALIE E FAÇA! Ele não ensina, avalie e desista!
Na
avaliação se pensa e se elabora um plano de como conseguir os recursos
que faltam; ou, qual será a estratégia para ganhar a luta. A avaliação
não é para intimidar, mas para preparar-se para enfrentar os desafios.
TODOS
os pastores e pessoas que iniciaram construção de templos, obras
filantrópicas e semelhantes foram acusados de imprudentes,
inconsequentes, precipitados, e coisa que o valha. Mas, TODOS concluíram
as obras que iniciaram! Este é o time no qual devemos jogar!
O Rev. Dwight Moody perguntava à sua igreja: “Quantos de vocês creem que Deus pode encher todas estas cadeiras neste auditório com pessoas?” Todos levantavam as suas mãos. Então ele fazia a segunda pergunta: “Quantos de vocês creem que Deus vai encher estas cadeiras com pessoas?” Menos de trinta pessoas levantavam as mãos. Então ele concluía: “Como veem, não precisamos de fé para dizer que Deus pode fazer isto; mas é necessário muita fé para crer que Deus vai fazer isto”!
Há
uma “fé” inconsequente que compromete a própria fé. Uma “fé” imatura,
irresponsável, alimentada pela paixão, emoção, ganância e cobiça. Por
outro lado há um tipo de “prudência” tímida, sem ousadia, acanhada,
reticente, mal calculada, que olha apenas para alguns aspectos
(geralmente os negativos) e não todos os aspectos.
Entretanto,
há um tipo de fé que anda de mãos dadas com a prudência, juntas
conseguem enxergar a possibilidade e rejeitar a impossibilidade
negativa. Neemias, que era um exilado, sonhou com a sua cidade Jerusalém
restaurada. Muralhas reconstruídas, comércio organizado, o templo bem
administrado, o povo tendo os seus direitos protegidos e garantidos.
Partiu e realizou.
A
fé de Neemias é responsável, prudente, calcula os custos e se lança na
busca de recursos, ela é coletiva, busca o apoio de todos, é promotora
do bem social, estimuladora da economia local, cria empregos e
oportunidades de servir.
O Rev. John Haggai descreve que precisamos de uma “insatisfação inspiradora”. Ela é determinante sobre o lugar onde estamos e onde desejamos estar. “Onde poderíamos estar agora se estivéssemos usando todo o nosso potencial? Sem a “insatisfação inspiradora” a pessoa acomoda-se ao seu ‘status quo’ e não vê nenhuma necessidade de mudança, não pode conceber uma visão de crescimento e jamais dá um passo de fé.”
Jesus conclui: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo”
(Lc. 14:33). Ser discípulo, seguidor de Cristo, é crer nele, e
renunciar nossas opiniões, análises limitadas, receios de fracassos,
apego a situações de conforto, e lançar-se ao propósito de Deus. Rev. Miguel Cox
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